Há por aí muitos que falam de
valores e sobretudo da perda de valores. Este ano houve por aí uma discussão
(ligeira) sobre os feriados. E, para alguns intransigentes dos valores, a
discussão sobre as promoções da tal cadeia com um patrão nacionalista mas com
uma sede holandesa, de supermercados, como outras, passou como se fosse apenas
uma liberdade de escolha, porque o 1º de Maio era uma coisa do passado, essa
coisa das oito horas de trabalho ou os direitos sociais, uma ficção que não se
coaduna com os tempos pragmáticos atuais. Talvez fosse interessante saber a
reação se fosse uma promoção de carne na sexta-feira santa ou outra qualquer na
noite de Natal. Talvez aí viessem com outros valores!
Há uns, envergonhados, que ainda dizem
que o 1º de Dezembro deveria continuar feriado, porque defendem a toda a hora
os valores nacionais, a Fé e o Império, D. Miguel ou D. Sebastião. Claudicaram
também! O argumento é quase sempre o mesmo: os outros estragaram tudo e agora
temos que fazer sacrifícios (digo eu, alguns ou a maioria). A culpa é sempre
dos outros, sobretudo para quem continua sentado!
Já há muito que não aguento
moralistas! Sobretudo os incoerentes! Preguem moralismos ao espelho e que
fiquem satisfeitos. Pouca paciência também tenho para os relativistas.
Não é preciso grandes
demonstrações para provar que o problema não é o número de feriados. Estados,
como a RFA, têm mais feriados que nós e são apresentados como países “do
trabalho”. Os trabalhadores alemães até trabalham menos horas que os
portugueses e, se particularizarmos, as mulheres portuguesas são das que
trabalham mais na Europa. Confunde-se, e propositadamente (um dos sintomas de
que o capitalismo em Portugal ainda está afastado da maturidade e enredado nas
teias de sociedades hierarquizadas, onde ainda se despreza o valor do trabalho
e mérito), horas de trabalho com produtividade.
Meus senhores (porque assim
querem ser, o que implica que outros sejam súbditos), se quiserem que os
portugueses trabalhem mais, promovam o trabalho para os que estão
desempregados, porque estes querem trabalhar e já muitos têm formação!
Portugal é uma República, em que
o Estado está separado da Igreja, das igrejas. A questão dos feriados põe-se em
termos políticos e não religiosos. Cada um pode ter ou não ter a religião que
quer ou não ter nenhuma. Ninguém pode ser obrigado a ter uma religião,
histórica ou moderna.
Felizmente, a própria Igreja
Católica Apostólica Romana já não exige a supremacia que teve noutros tempos.
Mas há sempre, e literalmente, alguns que são mais papistas que o Papa.
Pelo que percebi, o governo
transigiu sem qualquer necessidade. Quer, autoritariamente ,acabar com o dia
que simboliza a República e com o dia que simboliza a Independência. Sinais dos
tempos! De alguns!
Mas fez um favor, talvez inútil, acordou com a
Igreja, a suspensão de dois dias santos por cinco anos! E acabou com os feriados civis, republicanos, patrióticos! Como se alguém lhes tivesse dado o poder de acabar com símbolos pelos quais tanta gente e tanta gerações lutaram e se sacrificaram! Como se se sentissem na missão de, em nome de todos e sem lhes perguntar, acabar com tudo o que levou séculos a conquistar! Em nome de uns trocos do FMI e de uma ideologia neoliberal, conservadora e até reacionária e do ... salve-se quem puder!
Triste gente inútil que haveremos de um dia levar a que tenham alguma consciência do que é a RES PUBLICA.
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