quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Tunísia, o Egipto ... aqui tão perto!


Para início, lembremo-nos de princípios e descobertas estabelecidas pelas ciências. Os homens são todos da mesma espécie, homo sapiens sapiens ou neantropos. Lembremo-nos também de que, desde a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, com antecedentes nos pensamentos iluministas, franceses, ingleses e de outras partes, se declara que todos os homens são livres e iguais em direitos, entendendo-se que essa ideia se estende a todos, independentemente do sexo, da religião, da cultura, da nacionalidade. E que esses direitos são intrínsecos e inalienáveis.
Muitos declararam os princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade; frequentemente a última é relegada para segundo plano, ao sabor das circunstâncias, do pragmatismo e do esquecimento.
Tunisinos, argelinos, egípcios, marroquinos, sírios, palestinianos … são iguais a nós. Por que é que se há-de pôr um rótulo a cada um, sem sequer perguntar se estão de acordo com a imagem que deles fizeram, sem sequer olhar um pouco para dentro da vida de cada grupo, de cada um? É fácil falar em fundamentalismos, é fácil olhar para o mapa e dizer que são todos árabes, muçulmanos, e por isso, como foi fácil catalogar os judeus, sem ter em conta sefarditas, ashkenazi e outros, como chamar racistas a todos os alemães, como chamar preguiçosos e outras coisas a outros, … até aos portugueses, que têm a particularidade de chamar nomes a si próprios, embora não gostem que os outros os apelidem.
O esquecimento tem existido, como existiu para os portugueses que tiveram durante décadas um regime retrógrado, ultramontano, com censura política e social até à intimidade, com uma economia atrasada, antiliberal até, onde se impedia a indústria, onde se continuava um colonialismo de fantasia mas com consequências nas populações de lá e de cá, guerras coloniais, com mortos, estropiados, viúvas, fuga em massa para a emigração, analfabetismo, fundamentalismo, senhores “castiços” que se presumiam superiores, corrupção escondida por uma censura que não admitia notícias sobre divórcios, inundações, ministros em ballet rose e outras … Os atrasos ainda se notam por aí. E, no entanto, este país esquecido dava jeito a alguns, como dá jeito a Tunísia do turismo barato, as viagens no Nilo, a navegação do Canal do Suez, um aliado conveniente para a manutenção do status quo ou expansão de Israel, a contenção de outros movimentos.
Somos herdeiros de culturas multisseculares. O Egipto e a Tunísia também. A própria história se reescreve e, no Egipto, uns reivindicam a época faraónica, outros a árabe ou turca muçulmana (fatímidas, mamelucos …), por vezes em contraponto. Menos se fala na herança helenística (Alexandria há um século ainda uma cidade de gregos, cristãos, coptas e ortodoxos, e muçulmanos, sunitas e xiitas) ou romana e até cartaginesa como na Tunísia. Outros que reivindicam um estado laico ou tolerante em relação às religiões, à maneira de Mustafá Kemal na Turquia que promoveu a laicização do Estado e a libertação das mulheres, outros ainda o socialismo ou a democracia como noutros países ocidentais.
Tudo isto está presente no Egipto, por exemplo, com uma população jovem, com muitos estudantes que querem o mesmo que outros, com dezenas de milhões de pessoas, com um índice de desemprego alto, com uma posição estratégica que pode ameaçar potências, com gente de vários credos (os coptas cristãos são cerca de dez milhões) e até ateus, com um exemplo de revoluções no passado que se podem disseminar por outros estados que dão jeito serem estáveis e com uma população contida.
O medo é dos “Irmãos Muçulmanos”? Eles existem e vão actuar. Não podem ser subestimados, encurralados ou protegidos. Mas existem outros e muitos que simplesmente querem a liberdade de expressão, a democracia, direitos cívicos, sociais e culturais

Nenhum comentário: