domingo, 27 de setembro de 2009

O Castelo de Alter do Chão


Provavelmente construído em local já usado na época romana (em Alter há numerosos vestígios de construções romanas e bem perto ainda está em uso para o trânsito, a ponte romana de Vila Formosa) é construído na época califal e depois remodelado, tendo o aspecto actual das obras efectuadas no tempo de D. Pedro I. A vila tinha como senhor o próprio rei, tendo sido doada a D. Nuno Álvares Pereira e depois integrado na Casa de Bragança.

D. Pedro, que teve o cognome de Justiceiro, foi também conhecido como Pedro O Cru ou Cruel, à semelhança do seu sobrinho rei de Castela. Fernão Lopes conta-nos vários episódios deste rei conhecido pelos seus amores por Inês que, ora numa noite mandava fazer um baile com o povo em Lisboa, onde ele próprio entrava na folia, ora fazia justiça com castigos severos.
Fernão Lopes, na Crónica de el-Rei D. Pedro refere alguns critérios:

Era ainda el-rei Dom Pedro muito cioso, assim de mulheres de sua casa, como de seus officiaes e das outras todas do povo, e fazia grandes justiças em quaesquer que dormiam com mulheres casadas ou virgens, e isso mesmo com freiras.


O autor cita casos como o do bispo do Porto que dormia com a mulher de um cidadão e que mandou despir o bispo e só não o chicoteou por intervenção de alguns nobres que o avisaram que poderia ter problemas com o Papa. Mas em relação a um seu escudeiro foi mais longe:
E como quer que o el-rei muito amasse, mais que se deve aqui de dizer, posta de parte toda bemquerença, mandou-o tomar dentro em sua camara, e mandou-lhe cortar aquelles membros que os homens em mór preço tem: de guisa que não ficou carne até aos ossos, que tudo não fosse corto. E pensaram Affonso Madeira, e guareceu, e engrossou em pernas e corpo, e viveu alguns annos engelhado do rosto e sem barbas, e morreu depois de sua natural morte.

Ouvi também contar uma outra história, esta em Alter do Chão, certamente neste castelo. Estava o rei a olhar para o movimento das mulheres que iam ao chafariz (suponho que o mesmo chafariz que estava encostado ao castelo e que foi daqui “deslocado” há algumas décadas) quando ouviu uma mulher chamar outra que tinha por alcunha a “forçada”. Intrigou-se o rei e logo mandou chamar a mulher à sua presença, que lhe disse que quando era mais nova tinha sido “forçada” (violada) por um homem com quem depois casou e teve filhos. De imediato o rei quis fazer Justiça e condenou o homem à forca. Bem chorava a mulher dizendo que gostava muito do marido, que el-Rei não se comoveu e mandou executar a sentença.

Mas este castelo, para mim, traz-me outras recordações. Vivi em Alter até aos oito anos. O meu pai era tesoureiro da Fazenda Pública e da Câmara e Caixa Geral de Depósitos (imagine-se o “movimento” financeiro que a Câmara ou CGD tinham nessa altura!) e era delegado (ou qualquer cargo com um nome parecido) da Casa de Bragança para este castelo, cargo simbólico e não remunerado. Tinha a chave do Castelo! E, também por isso, este era o meu modelo de castelo e não o castelo de Guimarães, o modelo oficial da ideologia nacionalista. Mas, mais do que isso, quando ia para a escola primária que ficava noutra ponta da vila (nessa época andava-se a pé e sem os pais a acompanhar), ia cumprimentar o guarda do Castelo e dava uma volta pelas zonas que não estavam em risco de demolição. Hoje sei que foi restaurado e que tem lá dentro um museu.

Ver sobre D. Pedro I, a Chronica de el-Rei D. Pedro I, de Fernão Lopes: http://www.ippar.pt/pls/dippar/pat_pesq_detalhe?code_pass=70689
E sobre o castelo: http://www.triplov.com/historia/fernao_lopes/D-Pedro/index.htm

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