terça-feira, 27 de janeiro de 2009

"O boato é a Arma da Reacção"


Lembrei-me destes cartazes e panfletos usados pelo MFA em 1974. Aparentemente havia alguma ingenuidade no “slogan”. Circulavam inúmeros boatos sobre possíveis golpes de estado, conspirações à esquerda e à direita. Spínola faz um discurso sobre “a maioria silenciosa” e houve uma tentativa de golpe à direita em 28 de Setembro em que uns estavam envolvidos intencionalmente, outros foram atrás. Pior ainda foi em 11 de Março de 1975, em que os pára-quedistas saíram da base convencidos que tinham ordens do MFA para ocupar o RALIS e afinal era mais uma tentativa de golpe de estado de extrema-direita.

1974/1975 já foi há uns bons tempos mas o boato funciona como antes. O boato tem a característica de ser anónimo, embora possa ter autores vários, que vão acrescentando ao sabor dos interesses e crenças. E pode ser terrível quando se descobre que não tem fundamento, ou antes, baseia-se naquelas “meias-verdades” que são as mentiras bem conseguidas. Há boatos que rotulam as pessoas por muito tempo.

E até há boatos que dão jeito. Se estou com receio de determinada situação, por que não acreditar que fulano tal vai fazer isto? Ora se ele faz, o outro também é capaz de fazer e, portanto se eles fazem eu também posso fazer e fico desculpado por isso. E fico desculpado perante mim mesmo. Daqui a uns tempos poderei descobrir que afinal fui enganado e que a culpa foi dos outros em geral.

Mas o boato pode funcionar. Quando se hesita muito e se anda à espera que outros ditem as respostas à nossa consciência e surge uma situação em que temos que decidir, a emoção pode ser facilmente contaminada pelo boato e fazer-nos actuar contra aquilo que pensávamos.
Entretanto, como há sempre muito que fazer, esquecemo-nos e esperamos que todos se esqueçam, porque a culpa é sempre dos outros.

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