terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Chocalhos, borregos e outros gados

Alcáçovas
O senhor Penetra mantém a forja e um pequeno museu de iniciativa e teimosia pessoal.
Descendente de várias gerações de homens que faziam chocalhos, guizos e cascavéis, gente que trabalhava desde antes da madrugada e com calores só suportáveis por quem desde pequenino cumpria o árduo trabalho de assinalar o gado dos outros. Havia chocalhos para vacas, outros para ovelhas, chocalhos para o gado que pastava nas herdades sem cercas, chocalhos para o gado que se deslocava para outras pastagens mais frescas.
Alcáçovas era local de passagem para os longos caminhos da transumância, desses pastores que se deslocavam incessantemente das montanhas para as planícies, acompanhados por esses cães a que só lhes faltava falar, habituados a ordens, com vozes, assobios e apitos, que só uma cultura inteligente e secular pode produzir. Os últimos homens da transumância eram conhecidos por gente de "mal andar", porque o seu gado ia comendo por onde passava, mudando constantemente de lugar, mal sabendo os novos donos das propriedades, que antes de haver esta propriedade privada exclusiva, já existiam pastores com direitos de passagem desde há milénios.
O chocalho não é apenas um objecto construído com suor; é também um símbolo de gente que desconhecia ou derrubava fronteiras.

Alentejo com água

Vista a partir de Monsaraz

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A visita da Senhora Ministra à Escola Secundária de Severim de Faria

Sexta-feira 25 de Fevereiro de 2008, na Escola Secundária de Severim de Faria, pelas 16.00 horas é recebido um telefonema em que se avisa que a Senhora Ministra da Educação, provavelmente acompanhada pelo Senhor Primeiro Ministro, visitaria esta escola pelas 17.00 do mesmo dia.

A senhora ministra chegou atrasada 45 minutos e até pediu desculpa por isso, certamente alegando que não fora por ela (julgo eu que não é dada a almoços prolongados mas outros que a acompanhavam certamente que sim).

Encontrou, como se esperava, uma escola vazia, sem professores e sem alunos. Apesar da última hora e do atraso, não houve "aula de substituição".

Acabou a história. Ou antes, não fica para a História! Que se saiba, também não solicitou opiniões. Também ainda ninguém conseguiu provar que os mais educados sejam os ministros(as) da educação.

D. Carlos, o regicídio e confusões que por aí andam

Faz cem anos, dia 1 de Fevereiro faz-se que foi cometido o regicídio na pessoa de D. Carlos I, penúltimo rei de Portugal. O príncipe Luís Filipe foi também assassinado.
Vivia-se em Portugal na ditadura de João Franco. Mas o que significava ditadura na época?: Suspensão do parlamento, por alguns meses, até novas eleições. Nada de comparável com as ditaduras do século XX. É sempre importante definir as noções para que não se misture João Franco e Afonso Costa (que também foi ditador nesse sentido) com Salazar e companhia.
No governo de João Franco a imprensa continuava a dizer o que o que pretendia e com uma linguagem que hoje escandalizaria muitos. Era frequente tratarem o rei com adjectivos e epítetos vários, entre os quais, cabeça de abóbora.

Os partidos monárquicos do poder estavam em oposição aberta, algumas personagens aliavam-se aos republicanos na ânsia de voltar ao poder. Havia ainda alguns monárquicos saudosistas de D. Miguel e do Antigo Regime que não perdoavam qualquer modernidade nem o facto de D. Carlos ser descendente de D. Pedro, rei de Portugal e imperador do Brasil que tinha vencido e implantado o sistema parlamentar e a Carta Constitucional em Portugal. Nem o facto de D. Carlos ser neto de Vítor Emanuel II, o primeiro rei de Itália e rei liberal.
D. Carlos era cosmopolita, visitou várias cortes europeias, convidou reis e presidentes a virem a Portugal, num intenso esforço diplomático, visitou repúblicas, a do Brasil e recebeu a visita também do republicaníssimo presidente Loubet de França. Era artista, pintor, estudioso dos mares e não apresentava o ar de sacrificado que muitos portugueses gostam de ver no poder. Era mundano, caçador, fumava charutos, gostava de comer e beber e não se satisfazia só com a rainha ou as damas próximas.

Após a morte dele o país fica entre o adormecimento e a revolta. Ao que parece dizia Eduardo VII: estranho país este, onde matam o rei e em vez de prenderem os assassinos, demitem o governo. Dois anos depois é proclamada a República. Não havia quase monárquicos a resistir. A maioria destes nem sequer gostava do rei. Alguns, no 5 de Outubro, tornaram-se republicanos depois do almoço ou dos telegramas recebidos sobre o triunfo da República.

Há um livro interessante publicado em 1924, escrito por João Franco, em que este reproduz cartas trocadas entre ele e o rei. Alguns extractos permitem perceber a concepção que D. Carlos tinha do regime constitucional e das medidas que achava necessárias para o reformar. Escrevia o rei:

Nós queixamo-nos, e nisso não somos senão o eco da opinião geral, de que as Câmaras e sobretudo a Câmara dos Pares têm gasto imenso tempo e pouco têm produzido. Ora se a isto vamos juntar uma nova discussão do discurso da Coroa, porque terá de a haver, a mês e meio de distância desta que acabou agora, não será isto contraproducente e não virá isto a juntar elementos ao desprestígio do parlamento e tirar força à nossa obra, que é querer governar na legalidade e com o parlamento? (pág. 89)

Fiquei verdadeiramente satisfeito com o resultado das eleições e tenho a certeza que foi um grande passo no caminho que queremos seguir. Fizeram-se com uma ordem e uma liberdade a que estamos desabituados, ordem e liberdade em que é absolutamente necessário não só entrar como agora, mas prosseguir (pág. 81).

Sublinhados nossos.
In João Franco Castello-Branco, Cartas d’el Rei D. Carlos …, Lisboa, Livrarias Aillaud e Bertrand, 1924

domingo, 27 de janeiro de 2008

Outra santa. Museu de Faro

Não me lembro do nome desta santa. Mas é expressiva.

S. Sebastião II. Museu de Faro

Porque será que S. Sebastião aparece, na época barroca, quase como um jovem dançarino, um pouco alegre (em inglês gay), quando oficialmente o torturam? Que torturas sofreriam também os veneradores dos santos?

Em algumas tradições populares o Entrudo (hoje Carnaval) começava no dia de S. Sebastião, 20 de Janeiro.
Começavam as partidas, as farinhas e os ovos, a água, as bichas e bombinhas, os toques nas portas, a "guerra dos sexos", a partir do dia de S. Sebastião.

Ps. Este museu, no Verão, está aberto até às 23.00 horas no Verão. Um exemplo a seguir. A lembrar aqueles que falam em turismo em terras onde as igrejas e museus estão fechados (os últimos abertos no Verão a horas em que se deveria dormir a sesta e fechados quando alguém os poderia visitar).

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Padre António Vieira e o estatuário

É importante reler os clássicos e ver como escreviam alguns.
Dia 6 de Fevereiro faz 400 anos que nasceu o Padre António Vieira. Pregou em vários lados, contra os holandeses que dominavam o Recife, no Brasil, falava várias línguas clássicas, contemporâneas europeias, línguas indígenas do Brasil, foi embaixador de Portugal durante a Restauração, inventou impérios para Portugal, foi perseguido pela Inquisição.
Também esteve na Universidade de Évora.

Aprecie-se um pouco da sua prosa, saborei-se o ritmo e considere-se o que ele pensava sobre a educação dos índios e o trabalho de professor:

E ninguém se escuse — como escusam alguns — com a rudeza da gente, e com dizer, como acima dizíamos, que são pedras, que são troncos, que são brutos animais, porque, ainda que verdadeiramente alguns o sejam ou o pareçam, a indústria e a graça tudo vence, e de brutos, e de troncos, e de pedras os fará homens. Dizei-me, qual é mais poderosa, a graça ou a natureza? A graça, ou a arte? Pois o que faz a arte e a natureza, por que havemos de desconfiar que o faça a graça de Deus, acompanhada da vossa indústria? Concedo-vos que esse índio bárbaro e rude seja uma pedra: vede o que faz em uma pedra a arte. Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe, e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão, e começa a formar um homem, primeiro membro a membro, e depois feição por feição, até a mais miúda: ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama, e fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar. O mesmo será cá, se a vossa indústria não faltar à graça divina. É uma pedra, como dizeis, esse índio rude? Pois, trabalhai e continuai com ele — que nada se faz sem trabalho e perseverança — aplicai o cinzel um dia e outro dia, dai uma martelada e outra martelada, e vós vereis como dessa pedra tosca e informe fazeis não só um homem, senão um cristão, e pode ser que um santo.

Sermão do Espírito Santo, de Padre António Vieira.

Milagres

Senhora de Aires

Milagre que fez Nossa Senhora DAyres a João António morador no Monte da Magalhoa Senhora da Tourega tendo se somido (...) as cabras recorreo mais sua molher a Mãe Santissima esta ouvio os seus rogos sendo servida que lhe aparececem isto em Dezembro de 1889.



Milagres de outros tempos



Na Igreja da Senhora de Aires, em Viana do Alentejo.


Milagres que a Senhora de Aires fazia antigamente.

As ofertas e os ex-votos de igrejas e capelas onde se faziam romarias são a expressão de uma sociedade que não mudou há tanto tempo.

São retratos desse mundo rural, das coisas importantes da vida quotidiana.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Lápide na Rua dos Mercadores em Évora

Reza esta lápide na Rua dos Mercadores (as abreviaturas estão por extenso):

Patacas
Encomendai a Deus a alma do capitão D. Jozé Antonio (?)Freire da Veiga que aqui mataram nesta caza inosente em dia dos inosentes Pater Noster Ave Maria no ano de 1763.


Quem seria este capitão que foi assassinado no "dia dos inocentes"? Que dia dos inocentes foi esse? Perto há também uma Travessa do Capitão.
Estará relacionado com o processo dos Távoras no tempo do Marquês de Pombal?
Tanta História desconhecida!

Carta de Pina Manique, Intendente-Geral da Polícia ou o gosto pelo cumprimento das normas higiénicas.

Escrevia assim Pina Manique, dando instruções a um funcionário na Ilha da Madeira, para que as ideias da Revolução Francesa não se espalhassem por este país a Ocidente da Europa.

Aquele que Vossa Mercê vir de sapatinho bicudo e mui brunido, atilhos nos calções com gravata por cima da barba, colarinho até meio das orelhas, cabelo rente ao toitiço e tufado sob a moleirinha, com suíça até aos cantos da boca - agarre-me logo nele, tranque-mo na cadeia carregado de ferros até que haja navio para o Limoeiro: é iluminado ou pedreiro-livre!

Constituição da República Portuguesa (em vigor).

PREÂMBULO (da Constituição da República Portuguesa)

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.
A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país.
A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.
A Assembleia Constituinte, reunida na sessão plenária de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta a seguinte Constituição da República Portuguesa:

Avaliação de professores



Já não está em discussão. O governo tem pressa e parece que quer demonstrar que a decisão rápida é um valor.

Agora os conselhos pedagógicos têm que fazer, em dias, os instrumentos de avaliação.

E há de tudo... e até os perigosos e tecnicistas, com objectivos mensuráveis e definidos ao pormenor. E que definem comportamentos. E modelos.

Já é censurável fumar, ter comportamentos diferentes, ideias diferentes da normalidade então nem se fala. Em Portugal há tradições!

Esquecem-se alguns que temos uma Constituição que consagra a liberdade de ensinar. E um mau estatuto que ainda é obrigado a referir direitos.

Numa sociedade que teve a histórica paciência ou o gosto pelo miserabilismo autoritário de viver 48 anos numa ditadura fascista (não tenhamos medo dos nomes, Salazar não se importaria) mesmo a contra-corrente da Europa, há saudosos do poder unilateral, dos comportamentos modelares e obedientes, sempre com a desculpa que se tem que cumprir o que vem de cima.


Lembremos as antigas professoras primárias que só podiam casar com aprovação do estado, vistoriadas pela inspecção e pelos caciques locais, obrigadas ao manual único, ao comportamento ditado e a ditar, obrigadas a mandar rezar pelas autoridades e a ensinar e prescrever a única história milagrosa e eleita do Portugal dos heróis e dos santos que espalharam a civilização cristã pelos Algarves de Áquem e Além Mar em África, do Minho a Timor.


Já não estamos nessa crista da onda, e é bom não confundir as palavras, mas que a onda ainda se espraia é bom não esquecer.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Olhão

Olhão ao fim da tarde.

Olhão

Lápide em igreja de Olhão.

" A custa dos homens do mar deste povo se fas este templo novo no tempo q so haviao has palhotas em que viviao. Primeiro Fundamento 1689"

Viviam em palhotas, navegavam para África, para a Terra Nova, para quase todo o lado.
Este era o povo de marinheiros! Anónimos.

Olhão

Caíque.
Foi numa embarcação como esta que um grupo de olhanenses foi ao Rio de Janeiro informar D. João VI que Portugal já estava liberto dos invasores franceses. Vai fazer duzentos anos.
O caíque é um descendente das caravelas.
Como foi possível fazer viagens assim?

"Ó Vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não."

sábado, 19 de janeiro de 2008

Milenium ou os que mandam


Imagem do Milenium BCP em Évora.
Este edifício era do Banco Pinto e Sotto Mayor, na rua de Alconxel, actual Serpa Pinto, em Évora.
Pertence ao Milenium. Há anos que o edifício está fechado. O lixo acumula-se, serve de urinol das noites de Évora. A imagem de cidade Património Mundial e a Saúde Pública está entregue a esta gente. O poder local demite-se.
Quanto pagam de IMI (a antiga contribuição autárquica)? Quase nada.
O que ganha o Milenium e outros bancos? Quase tudo.
O melhor negócio e onde se paga menos impostos neste Portugal dirigido por um auto-denominado socialista, acolitado por outros que de intervenção fazem o beija-mão.
Não me falem em promiscuidade entre o poder financeiro e o poder político. Se, nas recentes eleições para o BCP aparecem, ex-ministros, ex-secretários de estado (que hão-de ser novamente), de vários partidos, dirigentes nomeados para o Banco Público, não é já só esta promiscuidade de que se trata. São os bancos, é o capitalismo financeiro são os especuladores (mesmo que coleccionadores de arte) que mandam neste país.
E só recebem. Não pagam como outros. E mandam palpites sobre tudo. E ordenam.
E outros calam.

Inquisição de Évora





No antigo Palácio da Inquisição de Évora está escrito (carregar na imagem para se ver melhor):

Exsurge Deus Iudica Causam Tuam

Foi Deus que julgou as causas dos homens, que mandou queimar hereges, judeus, cientistas, bruxas?

No antigo palácio do Inquisidor (ex.Colégio Nuno Álvares) vê-se o símbolo do Santo Ofício: a espada da justiça e a oliveira da Paz.

Quem ficou em paz? Os condenados, os inquisidores, os que aplaudiam, os indiferentes?

Descendemos de quem? Dos que actuaram em nome do seu Deus, dos que assistiram ou não quiseram ver nada ou dos que a nada tiveram direito?

Liberdade

Recordo de vez em quando estas frases de Jean-Paul Sartre.

Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e no entanto livre, porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer.

Habituámo-nos demasiado a falar em culpas e a termos desculpas para o nosso absentismo.
Também somos responsáveis quando não actuamos e deixamos outros usarem o poder que nos pertence.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Ilha de Delos


Eros triunfa!
Por isso, a Igreja Ortodoxa fez tudo para a esquecer, essa ilha onde os antigos helenos se reuniam.
Lembrava a Grécia Arcaica e a Grécia Clássica, onde o erotismo não era o pecado original, posteriormente inventado e imposto.
Onde o erotismo era religião, o que (re)ligava os seres humanos.

Ilha de Delos


Mar Mediterrâneo. Ilha de Delos, ilha sagrada na antiguidade, dedicada a Apolo.

O Mar parece um lago. O Sol (Apolo) é intenso. Quase não há sombras.

Sentem-se forças telúricas!

Situa-se no centro das Cíclades. As outras ilhas foram cristinianizadas, esta não. Porquê?

A força dos elementos irrompe de tal maneira que não permite a domesticação da Natureza, do Homem e da Razão.

Triunfam Apolo, Afrodite e Dionísios.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Sobre a gestão das escolas.

Declaração de interesses: sou professor do ensino secundário há muito, costumo participar na escola e fora dela, sou pai e tenho 3 filhos e não acredito no discurso salazarista de que os portugueses não estão preparados para viver em democracia.

No projecto de Decreto-Lei sobre gestão das escolas prevê-se um Conselho Geral que, em princípio, tem amplos poderes. Digo, em princípio, porque não basta a enunciação desses poderes, esses só serão efectivos se os respectivos membros participarem, propondo, reflectindo, aprovando, fiscalizando … O que significa que é preciso trabalhar, dispor de tempo, dispor de si e das instituições que se representa, oferecer contrapartidas para o bem comum. De contrário, se não houver participação alguém irá utilizar o poder por “falta de comparência.

Porque as escolas têm o seu dia a dia e não podem parar.

Quem participa? Professores, pessoal não docente, representantes da autarquia local, pais e encarregados de educação, alunos (ensino secundário), representantes da autarquia local e representantes da comunidade local.
Vejamos algumas competências do Conselho Geral
a) Eleger o respectivo presidente, de entre os representantes das autarquias, dos pais e
encarregados de educação ou da comunidade local;
. Exclui-se do cargo os professores, o que significa que esta função e este trabalho terá que ser exercido por um pai, um representante da autarquia …
b) Seleccionar e eleger o director. O director vê reforçados os seus poderes, é presidente do Conselho Pedagógico, nomeia os seus membros, é responsável pela gestão quotidiana, distribui o serviço docente, é avaliador de funcionários e professores etc. etc. Inclusivamente pode ser alguém que não conheça a escola. É avaliado pelo Conselho Geral (se este o fizer).
c) Aprovar o projecto educativo e acompanhar e avaliar a sua execução;
f) Apreciar os relatórios periódicos e o relatório final de execução do plano anual de
actividades;
h) Definir as linhas orientadoras para a elaboração do orçamento;
i) Aprovar o relatório de contas de gerência;


Para definir, aprovar, apreciar, acompanhar, é preciso conhecer bem e discutir, estar atento e disponível.

O legislador definiu também que os professores eleitos devem estar em minoria. No regime transitório os membros serão sete representantes do pessoal docente; dois representantes do pessoal não docente; cinco representantes dos pais e encarregados de educação; três representantes da autarquia local; três representantes da comunidade local. Nas escolas com ensino secundário haverá um aluno e quatro encarregados de educação. Os representantes das instituições e actividades de carácter económico, social, cultural e científico são cooptados pelos restantes membros.
O modelo foi parcialmente copiado de outros países da União Europeia. Os países escandinavos, por exemplo, têm uma forte participação das instituições e comunidades locais. Mas há diferenças. As autarquias desses países tratam as escolas como suas e participam com dinheiro e recursos humanos e materiais e interessam-se pela sua gestão porque o investimento também é delas, assim como os benefícios esperados para as localidades ou país. Consideram que a Educação é responsabilidade de todos e que o desenvolvimento humano se faz com educação e instrução (veja-se os países com melhores índices de desenvolvimento humano). O estado limita-se a financiar parcialmente e supervisionar (a sério) sem impor comportamentos nem burocracias centralizadoras, extenuantes e inibidoras. As sociedades desses países têm um nível de instrução consolidado há muito, uma prática de respeito pelos indivíduos, pela lei e pelo assumir e exigir responsabilidades e aversão ao desperdício e demagogia. Não isentas de problemas e, referindo-nos aqui a práticas da maioria sociedade e não de alguns indivíduos, verifica-se também que os pais e a sociedade em geral responsabilizam os alunos pelo dever do trabalho. Basta verificar o número de horas em que os nossos jovens vêem televisão (o país onde se vê mais televisão na Europa) ou jogam em computadores ou outros aparelhos, as saídas nocturnas, a frequência de hipermercados, o número de livros lidos per capita etc. (há estudos sobre isso).

Até aqui tem havido uma Assembleia de Escola, onde participam um representante dos pais, da autarquia, funcionário, professores …O que se tem verificado na maioria das escolas é ou a falta de comparência de pais, a sua fraca disponibilidade ou até a quase ausência de representatividade. As autarquias, frequentemente enviam um funcionário sem poder de decisão e com o tempo contado. Sobram professores que, em algumas escolas (e ressalve-se que em muitas escolas as direcções incentivam a participação democrática) podem ser controlados, nomeadamente com a distribuição de serviço. Muitas assembleias têm-se revelado inoperantes.

E agora? Vamos esperar que a participação surja por decreto?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O Papa, a Ciência e a História


Professores e alunos defendem laicidade da mais antiga universidade Com um comunicado breve enviado pela sua Sala de Imprensa, o Vaticano anunciou o cancelamento da visita que Bento XVI devia efectuar amanhã à Universidade da Sapienza, em Roma - a mais antiga de Itália, construída por Bonifácio VIII em 1303 -, onde o Papa, a convite do Reitor, deveria pronunciar o discurso da cerimónia de abertura do ano lectivo.
(...)Tudo começara quando um colectivo de professores do departamento de Física (67 no total) e grupos de estudantes radicais divulgaram uma carta a opor-se à presença do Papa, considerando que ela seria uma violação da laicidade e da autonomia multissecular da Universidade. Os autores da carta denunciavam as posições conservadoras de Bento XVI em diversas matérias sociais e, sobretudo, a sua concepção de uma investigação científica subordinada à fé religiosa.[Um dos professores, Carlo Cosmelli, disse à AFP que "desde a condenação de Galileu pela Inquisição em 1633, os físicos são particularmente sensíveis às ingerências da Igreja Católica no domínio científico".]
Fotografia e texto do Diário de Notícias, dia 16 de Janeiro de 2008

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Escola Secundária de Severim de Faria

Escadas.
Existem algumas. Custará assim tanto fazer boa arquitectura noutras escolas?
Afinal onde passamos a maior parte do tempo?

Escola Secundária de Severim de Faria

Ainda há escolas com edifícios diferentes dos modelos e com espaços verdes.

Chicos espertos

Medeiros Ferreira deu uma entrevista ao programa “Diga lá Excelência”. Cito de cor:
A diferença entre a Constituição Europeia e o tratado de Lisboa é a mesma de um rapaz ter o nome de Francisco no Registo Civil e ser tratado por Chico em casa.
Seguindo o pensamento e comentário nosso. Como a Constituição foi rejeitada em referendo em alguns países, agora não se pede opinião.
Sofismas.
E no futuro como será? Pede-se o voto da população; se esta disser que não inventa-se outro Chico? E depois, quem acredita?

A Palestina pode esperar

Bush anda em digressão pelas Arábias. Um puritano americano não costuma beijar homens. Distâncias são necessárias normalmente, sobretudo com latinos e suspeitos. Um muçulmano integrista também não gosta de cristãos protestantes. Na Arábia Saudita (saudita é um nome de família dado a um país) continua-se a condenar mulheres ao apedrejamento até à morte, a cortar a mão aos ladrões de frutas, a decepar a cabeça com uma espada ou alfange aos que cometem crimes políticos.
Sousa Tavares diz que Bush anda pelo Médio Oriente como o senhor Oliveira da Figueira do Tintin a vender e a comprar. Não é bem assim. O senhor Oliveira da Figueira vendia tudo, em qualquer lado, poderia até não pagar impostos nem respeitar a ASAE, mas não tinha petróleo nem discursos para salvar uns e mandar outros para o Inferno.
Como diriam os cristãos do Iraque ou da Palestina: que Alá nos salve!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Palácio dos Henriques, Alcáçovas



Jardim do palácio dos Henriques. Decoração feita com conchas.
Teremos assim tantos jardins renascentistas?
Em degradação.

Capitão Barros Basto

O capitão Barros Basto participou na implantação da República e, durante a Grande Guerra, combateu na Flandres. Tinha ascendência judaica e converteu-se a esta religião. Participou na fundação de várias sinagogas e ajudou refugiados judeus durante a 2ª guerra mundial. Foram-lhe movidos processos em tribunal civil e tribunal militar. Por presidir à circuncisão de jovens convertidos foi afastado do exército em 1937, acusado de homossexualismo, numa época em que interessava manter boas relações com a Alemanha nazi. Foi alvo de uma campanha por parte de membros da Igreja Católica.
Ainda não foi reabilitado.
Está em curso uma petição. Quem quiser assinar veja em:
http://www.PetitionOnline.com/benrosh/

Palácio dos Henriques, Alcáçovas



Um palácio manuelino e com utilização anterior. Neste palácio foi assinado o tratado de Alcáçovas que dividiu pela primeira vez o mundo entre Portugal e Castela. Esta ficou com as Canárias e Portugal com a exploração das terras a Sul, isto é, África e o caminho para a Índia. Por isso, quando Cristóvão Colombo descobriu a América houve que fazer novo tratado que dividiu novamente o mundo.
Ao abandono.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Deserto, estevas e jamais, com uma pereginação pelo meio, um filho desculpado e um aeroporto que há-de vir

Hoje, o primeiro-ministro apareceu na televisão a explicar a próxima tomada de decisão sobre o aeroporto, após dezenas de anos de infinitos estudos. Não abandonou o ministro e, com uma pose sábia e paternal, defendeu Mário Lino, como se fora o filho pródigo.

Mas Mário Lino tinha razão em duas coisas, apenas se enganou no século.

Uma foi a falar francês. Era de bom tom, nos séculos XVIII e XIX dizer umas palavras em francês, até na corte russa se falava francês. Jamais é uma palavra que só exprime quem sabe, não tem dúvidas e raramente se engana.
A outra verdade era sobre o deserto a Sul do Tejo. Citemos um médico, botânico e geólogo alemão que andou a viajar por Portugal, no dorso de uma mula, em finais do século XVIII. Escreve Link sobre o Alentejo e Margem Sul:

“O viajante deixa em breve a região de Elvas. A maior parte das terras em Portugal é como ilhas, não raramente como ilhas encantadas no meio de um mar deserto estéril. Não longe de Elvas, sobem-se as montanhas áridas e estéreis, vêem-se com efeito ainda casas isoladas mas já nenhumas aldeias.
(…) Estas montanhas xistosas têm sempre um aspecto seco e árido e no Sul estão sempre cobertas de estevas. (…) O arbusto não forma um mato muito denso, mas está de tal modo entrelaçado que só com algum esforço se pode passar pelo meio do matagal, (…)
A três léguas de Estremoz chega-se a uma pousada chamada a Venda do Duque, onde decerto nenhum duque gostaria de se hospedar. Aqui, como em Espanha, há ainda regiões cobertas de giesta(…)
Os montes de granito prolongam-se ainda uma légua a seguir a Montemor e perdem-se depois numa planície, toda ela coberta de areia e seixos, que se estende à margem do Tejo.
A quatro léguas de Montemor-oNovo, chega-se a Vendas Novas, uma pequena aldeia onde se encontra um pavilhão de caça do príncipe do Brasil, três léguas mais adiante encontra-se outra aldeola chamada Pegões (…) e a cinco léguas dali chega-se à margem à margem do rio e à Aldeia Galega, onde se embarca para Lisboa. Fizeram-se 11 léguas contínua e ininterruptamente pela charneca, sem que se tenha visto nada de especial a não ser matagal e arbustos, pinhais e alguns campos cultivados nas proximidades das pequenas aldeias. Num alto, a uma légua da Aldeia Galega, está uma igreja erigida a Nossa Senhora da Atalaia. A esta igreja fazem os negros de Lisboa anualmente uma peregrinação, não faltando espectadores para ver esta procissão negra.”
Aldeia Galega era o nome antigo do Montijo. Agora pergunta-se: caberia na cabeça de alguém no século XVIII, fazer um aeroporto, no meio do deserto, das estevas e matagais, da areia e dos xistos, onde o único acontecimento era uma procissão de negros, mesmo que com alguns mirones, os turistas de então?

Jamais!!!

As declarações de Mário Lino têm um interesse relativo e hão-de passar de moda, mas o livro de Heinrich Link vale mesmo a pena ler. O título é Notas de uma viagem a Portugal através de França e Espanha e foi publicado pela Biblioteca Nacional em 2005.

Solução: entaipar

Rua da Moeda, em Évora. Antiga habitação judaica, provavelmente do século XV. Ainda há pouco tempo, na porta gótica, se via a mezuzah, onde os antigos habitantes punham um rolo com frases da Torah para proteger a habitação. Por cima da porta do lado esquerdo está uma lápide em mármore com o símbolo do cabido da Sé de Évora.
Os antigos habitantes, judeus portugueses, se escaparam à Inquisição ou se tiveram tempo de fugir após o édito de 1498, foram para Amesterdão, Salónica, no Império Otomano, Marrocos ou outro lugar mais tolerável.
Há dezenas de anos que que não vive lá ninguém. O telhado já caíu; hão-de cair mais coisas. Hoje é habitada por ratazanas e pombos que ajudam a degradar outros monumentos e entram pelas chaminés da vizinhança.
Memória? Orgulho no Património?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Sereias. Portal da Sé de Évora

A eterna luta entre o bem e o mal. O macaco ou infra-homem e as sereias. Os discípulos venceram os diabos. Em Évora, na Idade Média, as sereias perturbavam os homens.

Sereia. Casas Pintadas, Évora, séc. XVI

As sereias encantavam os marinheiros com o seu canto. Só Ulisses conseguiu ouvi-las sem se perder, porque ordenou que o prendessem ao mastro.
Perigosas!

Harpia. Casas pintadas, Évora,séc. XVI.

As harpias têm rosto de mulher, corpo de ave e garras. Eram as "cadelas de Zeus".

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Menino Jesus? Catedral de Cádiz



Aprendi na catequese (e não reprovei) que Jesus tinha sido crucificado aos 33 anos. Descobri já com esta idade que há outras interpretações neste país com uns Reis Católicos, título especial oferecido pelo Papa à conquistadora de Granada, Isabel a Católica. Será que os andaluzes resolveram subverter tudo?

Le chien qui fume

in http://www.metropoleparis.com/

Caninos e ....



Nem assim poderão entrar no Arcada. Les fumeurs aussi.

Fotografia em Narbonne, França.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Niebla


Em Niebla, Andaluzia.

Niebla, antigo reino de taifa, no antigo Algarve, o pátio de uma antiga mesquita, suponho que almóada, hoje igreja.

Niebla, cidade antiga, hoje decadente, como Silves, porto interior. Cidade exportadora de minérios do Rio Tinto, substituída por Huelva.

O que é preciso é cultivar a horta

Quase todos conhecem Voltaire, um nome que quase assusta, iluminista, execrado pelas críticas a práticas religiosas e ao poder absolutista. Escreve em Cândido ou o optimismo:
“Pangloss ensinava a metafísico-teológico-cosmolo-nigologia. Conseguia provar por forma admirável que não há efeito sem causa, e que, no melhor dos mundos possíveis, o castelo do senhor barão era o melhor dos castelos (…)- Está demonstrado, dizia ele, que o que existe não pode ser diferente; porque, tendo tudo sido criado para um fim, fatalmente é para o melhor dos fins. Nota-se sempre que os narizes foram criados para segurar os óculos; as pernas foram certamente instituídas para terminarem em botas, e por isso usamos calçado (…)”
Cândido, inocente, depois de ter aprendido as lições do seu mestre Pangloss, vê massacres, participa neles sem querer ao serviço dos búlgaros, mata um judeu e um inquisidor em Portugal, também, sem querer, serve os espanhóis e os índios e também os jesuítas, que oram pelos reis de Espanha e os combatem na América, conhece o Eldorado e acaba na Turquia, depois de ter conhecido um pessimista… e acaba no Império Otomano, depois de ter passado em Veneza, tendo conhecido um camponês turco que tinha uma horta.
No final, Pangloss, que tinha sido enforcado pela Inquisição portuguesa mas conseguiu sobreviver por…”dizia algumas vezes a Cândido:
- Todos os sucessos estão encadeados no melhor dos mundos possíveis; porque enfim, se tu não fosses expulso dum formoso castelo com grandes pontapés no traseiro por amor da menina Cunegundes, se não tivesses passado pela Inquisição (…), tu não comerias os frutos da terra.
- Tudo isso é muito bonito, respondia Cândido, mas é preciso cultivar a nossa horta

Café Arcada

Depois de termos enviado uma mensagem para os donos do Café Arcada recebemos a seguinte resposta:

Exmo. Senhor,

Agradecemos os seus comentários bastantes pertinentes e pedimos desculpa pelo facto. Gostaríamos de o informar que já alterámos a localização do dístico de não fumadores.

Neste momento e face à actual complexidade deste assunto, a nossa posição é sermos um Café e Restaurante Não Fumador, pelo menos até haver uma melhor clarificação da lei.

Esperamos continuar a merecer a sua preferência.

Melhores Cumprimentos,

domingo, 6 de janeiro de 2008

Ortografia sem aflições


Contribuição para um novo acordo ortográfico nos arredores de Évora, com algumas medidas controladoras do fumo pelo meio.

Caninos e fumadores


Fotografia do Café Arcada com proibição de entrada a cães e fumadores. Ou será que os cães não podem fumar? Será que a gerência conhece aquele restaurante de Paris com o nome "Le chien qui fume" e não quer ofender os direitos de autor? E o cesto em baixo será para quê?

Como todos deveriam saber, o Café Arcada foi feito essencialmente por clientes que comem queijadas e pastéis de nata, seguidos de iogurtes sem calorias, segundo a melhor tradição de eficiência e educação.

S. Sebastião. Catedral de Cádiz


Segundo o livro Santos de cada dia, "embora Sebastião (+288) se sentisse abrasado dum desejo ardentíssimo do martírio, entendeu que deveria moderar o seu ardor, conservando-o como que escondido debaixo do seu uniforme de soldado …”.
Em 288 foi martirizado com flechas atiradas pelos seus próprios soldados, por ordem do imperador Diocleciano.
O dia de S. Sebastião é festejado em 20 de Janeiro, em muitos locais relaciona-se com o pão e o trigo. As suas capelas situam-se geralmente à entrada (antiga) das povoações, porque é também protector contra a peste e, como todos sabem, as pestes vêm sempre de fora.

Rua de Alconxel

As ruas são espaços públicos, por onde passam ricos e pobres, novos e velhos e outros em boa idade, homens e mulheres, de cabelos curtos ou compridos, saia, calças, capote, lenços árabes, se assim aprouver ao dono. Uns passam, outros ficam, andam devagar ou mais depressa mas dão passagem aos que querem seguir. As ruas podem ser tortas, até tortuosas mas são como as linhas rectas que não têm princípio nem fim. A rua de Alconxel ou Alconchel, com a velha nova ortografia, começa na Praça do Giraldo, que já foi a Praça Grande, onde desembocam tantas ruas como as bicas da fonte, e continua para fora das muralhas, onde também começava, e vai em direcção à capela de S. Sebastião, Chafariz das Bravas, Montemor, Lisboa e outras desvairadas terras. Na Rua de Alconxel, também Serpa Pinto hoje, há ou passam fumadores e não fumadores, pastelarias ou tabernas, tribunais e bêbados, antigo convento e pensões, floristas e casas de ferramentas, até filósofos e coscuvilheiros mas todos têm cara. Nesta rua não temos paciência para anónimos, cada um é como é, mas dispensamos familiares do Santo Ofício, “moscas” e “bufos” (salve-se o verdadeiro passarão em extinção) e gente que só conhece a verdade absoluta e se delicia com as ideias no churrasco. Moralistas também têm outros sítios mais confortáveis, que se divirtam entre si ou que “orem pro nobis”ou até que ganhem o Céu. Nós por aqui, contentamo-nos com o Inferno, que à letra é o mundo inferior, aquele em que vivemos à procura de qualquer coisa, seja do espanto pelas coisas simples seja por aquelas coisas que nos dão prazer, corpo e espírito como se soía dizer.