segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Os preconceitos desta pretensa elite que manda

Os que mandam neste país quiseram resolver o deficit com contas de mercearia, salvo os homens das mercearias de esquina ou do largo que fazem um bem público. A questão que puseram foi a de cortar. Cortar em quê? Nos suspeitos do costume da ideologia liberal ou neo-liberal: saúde, educação, reformas … Não acuso só o governo, mas sobretudo, como também esta União Europeia que proclamava há pouco tempo “o menos estado” e que agora nacionaliza bancos que há pouco tempo tinham lucros exorbitantes, agora injectados com dinheiro dos contribuintes - os que pagam todos os deficits.

Mas, para além disso, essa autoproposta elite tem uma desconfiança em relação a quem ensina. Uns, porque acharam que os filhos das criadas não deveriam aprender mais nem ter um lugar superior ao filho do patrão; outros, porque desprezaram sempre os livros, a investigação, até a participação; outros ainda porque acham que são eles os detentores da cultura, o que é uma forma aparentemente sofisticada de reproduzir a ideia que os filhos das criadas não podem pensar e agir. Alguns pensaram até que eram mais modernos que os outros e sentiram-se no direito de achar que todos os outros são estúpidos. Conluiaram-se nesse desprezo e nessa tentação autoritária que tem raízes longas neste país e vá de “bota abaixo em relação aos professores.

Não quiseram avaliar a situação. Eles sabem mais, sabem tudo e vá de resolver tudo drasticamente. Ouviram falar que o professor do filho de um vizinho faltava muito, conhecem uma antiga colega de faculdade que tinha menos horas, deram aulas um ano e faltavam muito, pensando que todos eram também assim oportunistas, foram um dia a uma reunião de pais e o professor não resolveu uma qualquer situação, leram apressadamente umas estatísticas desactualizadas e está feita a opinião.

Nunca terão pensado que um professor precisa de ler, que precisa também de tempo para preparar aulas diferentes que ponham os alunos a pensar e a investigar um pouco. Não quiseram saber de quem estava na profissão a fazer de conta. Quiseram obrigar todos a serem investigados até ao pormenor, quiseram controlar tudo.

Estão a secar a fonte.
Querem secar a fonte!

O que se passa actualmente nas escolas é kafkiano, um arremedo de surrealismo ( que era uma arte libertária), um desgaste e uma inutilidade permanente. Para quê?

É preciso avaliar ou antes culpabilizar, intimidar quotidianamente, a partir de modelos pré-formatados? Coscuvilhar tudo? Em que é que isto melhora?

Querem comparar-nos com outros estados da União Europeia? Pois bem, nada se passa assim, nem por sombras, e também têm os seus defeitos. Talvez porque não tiveram esses hábitos de uma Inquisição de 300 anos, esses hábitos pidescos de 48 anos, essa tentação de mandar até à intimidade.

Eu não quero mudar de país. O que gostaria é que essa gentinha que manda fosse fazer um estágio a qualquer lado (mesmo que nós pagássemos, o que já estamos habituados) e começasse, o que não é fácil para eles, a pensar um pouco racionalmente.

Estes são os herdeiros daqueles que nos deixaram a miséria social e intelectual salazarista. Mesmo travestidos de modernos e eficazes (?) e com viagens às Caraíbas, ao Quénia e a outras partes, onde os empregados lhes servem as bebidas e os pobres que cheiram mal ficam higienicamente fora de vistas.

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