sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Mértola e a memória islâmica



Após a reconquista, Mértola ficou sob o domínio da Ordem de Santiago, constituindo-se numa comenda. Os cavaleiros espatários impuseram o cristianismo romano e esforçaram-se por banir tudo o que fosse diferente da sua religião, nomeadamente da cultura e civilização islâmica.

No entanto, ainda no século XV encontramos em Mértola uma situação quase “escandalosa”, do ponto de vista da Ordem, em relação a práticas religiosas. Na visitação efectuada pela Ordem de Santiago em 1482, constata-se o estado em que se encontrava a Igreja Matriz que, para além da degradação ou ausência de alfaias litúrgicas, estava em parte sem cobertura. Mas, mais interessante, é o facto de os moradores ainda continuarem a rezar voltados para Meca, isto é, o altar mor estava no lugar do mirhab, a que o autor chama alcaram, situação com que o visitador não contemporiza.


12. Item achamos que os altares que aguora estam na dicta igreja, scilicet ho altar moor e onde está ho Sacramento nom estam em boom logar, pollo qual mandamos em virtude d'obidiencia ao comendador moor que mude o dicto altar moor onde estava ho alcaram que hé no meyo das naves da igrreja e hé pera onde nace o ssoll onde per dereito (Fl. 6r) deve d'estar. E o sacrario se porá dentro no oco da torre em cima do altar moor e huum retavolo em cima delle


Parece também que muitos moradores ou não assistiam ao ofício divino ou simplesmente ficavam em "palratórios" do lado de fora da Igreja.


22. Item mandamos ao dito priol ou cura que amoeste todos seus freguesses que aos domingos e festas principaees estêm a todo oficio devino dentro na igreja e nom fora em palrratorios, sô pena d'escomunhom
18. Item lhe mandamos que em cad'huum anno faça confessar e comungar todos seus frreguesses amoestando-os em suas estaçõees e os que comtumazes forem os denuncie e nom dires missa com elles e mandá-los-es em Rol a Dom Priol em cad'huum anno até Pinticoste pera averem correiçom e vos amandar a maneira que nelo tenhaes que seja a serviço de Deus e bem das suas almas .

in João Simas, O Rio e os Homens ... pág. 95

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