sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Taberna do Tiago

Naquele tempo, estamos a falar dos finais dos anos 60 e princípio dos 70, nestas vilas do Alentejo e arredores, não havia restaurantes, apenas tabernas e alguns cafés que, por vezes eram umas tabernas com uma máquina de café e uns senhoritos como clientes.
Nas tabernas vendia-se vinho a copo, tirado da pipa, da talha ou simplesmente do garrafão. Havia também alguns petiscos, coisas simples, dependendo da época do ano, em que o que se comia era mais para acompanhar a bebida e, por isso, comia-se devagar e molhando o pão. Conversava-se sobre quase tudo, sobre o que se sabia e sobre o que se podia falar, até porque poderia haver alguém a escutar demais e, pior ainda, a informar quem mandava ou queria mandar ainda mais.
O vinho, geralmente não era de grande qualidade e a cerveja era ainda cara.
Na minha adolescência em Sousel (diga-se que a própria palavra adolescência era novidade), os rapazes (e era do que se tratava) ou já andavam a trabalhar ou (no meu caso e de outros) andavam a estudar sem os métodos pedagógicos da década seguinte.
De manhã, das oito à uma, tínhamos aulas. Às vezes à tarde também, e aos sábados normalmente. À tarde dos dias normais era para estudar. Mas nem sempre.
Falemos de coisas pouco correctas actualmente. Nessa época até parecia mal um rapaz estar muito tempo em casa, mesmo que as descomposturas por não estudar fossem um pouco incoerentes. Dinheiro também não havia muito e as distracções eram também poucas. A televisão só começava ao fim da tarde e pouca gente tinha o tal aparelho.

Passávamos também pela taberna do Tiago. O Tiago estava sempre bem disposto. Falava tu cá tu lá com a rapaziada. Até nos sentíamos importantes. Conhecia uns truques com cordéis, outros com copos, falava de coisas da vida. Ainda por cima, às vezes oferecia um copo de vinho e um cigarro da marca "Três Vintes", daqueles sem filtro mas melhores que os tabacos de onça (por fazer) ou dos “Provisórios” ou “Definitivos”. Por vezes havia um petisco. Mas o lucro do Tiago era um prejuízo constante para ele. Por vezes, o pessoal passava por lá só para "cravar" um cigarro e ainda ouvia uma nova história ou um "truque" novo.

A taberna do Tiago era outra escola. Aí também aprendi muita coisa sobre a vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma grande verdade, é que por vezes aprendemos mais noutros sitios do que na escola. A escola ensina teorias, fazer contas e dá conhecimentos.. mas nao ensina o mais importante, saber viver.

Nao se esqueça do jantar de hoje, ja respondi ao mail. =)

Daniela Parra