sábado, 19 de abril de 2008

Sobre os sindicatos e a negociação

Foi assinado esta semana um “memorando de entendimento” entre a plataforma sindical e o Ministério de Educação. A questão foi discutida na maioria das escolas do país, tendo sido aprovada uma moção na maior parte. Houve muitas reticências e críticas e alguma contestação.
É difícil decidir. E mais difícil ainda quando a intransigência é grande e escudada por uma maioria absoluta que, apesar de não ter apresentado este programa para a Educação, arroga-se da legitimidade da mesma maioria absoluta, como se a democracia se resumisse apenas a um voto quase em branco de quatro em quatro anos.
Mais fácil é não decidir e remeter a culpa para os outros todos.
É difícil decidir quando se sabe que, como quase sempre, uma decisão ou uma não decisão tem efeitos a curto ou médio prazo.
Este memorando de entendimento apenas chegou a um pequeno limite do bom senso. Não havia o mínimo de condições para avaliar milhares de professores no final do ano lectivo. Era demasiado irrealista, demagógico, perverso e atentatório da igualdade de direitos tentar este processo sem condições.
E, no entanto, há escolas que se diziam preparadas!
Os sindicatos ganharam alguma coisa? Quase nada. Sobretudo a esperança de alguma revisão, mas não dos pontos essenciais. O essencial está na mesma.
Também já se percebeu que esta equipa ministerial está quase de saída. Mas também que vai continuar a mesma política, mesmo que com outras caras depois das eleições. Digo, depois das eleições, porque com um PC em que ninguém acredita que alguma vez seja poder, com um PSD de opereta, em que foi adoptado o pior discurso que há no mundo do futebol, com tanta gente que contesta e que fica admirada (?) mas que continua a dar cheques em branco e a votar e até militantemente neste PS, para depois chorar “arrependido”, este PS “decidido” e anti-socialista há-de continuar no poder.
Se está no poder com esta ministra é porque votaram em Sócrates e companhia, é porque a sociedade portuguesa por militância ou por omissão o quis e o quer, com todo esse aparelho de “cargos políticos” espalhados por este país.
Foi muito interessante do ponto de vista sociológico a manifestação dos 100000 professores. Um fenómeno quase impossível em Portugal, na Europa ou a nível mundial. Mereceria um estudo atento como facto social. Mereceria muitas interrogações sobre o papel e estatuto dos professores, sobre a importância do ensino neste país. O que vai sair daqui não se sabe, mas há-de ter consequências.
No entanto, esconde-se também um problema e desculpe quem me lê, não vou ser simpático.
O problema é o papel dos sindicatos e as reivindicações (ou não) dos professores.
Os sindicatos “espelham” ou “refractam”, os professores e o país que temos.
Quis-se, contemporizou-se com uma proliferação de sindicatos, muitos que não representavam quase nada. Para os poderes, isso sabia bem, assinava-se um acordo com sindicatos que todos sabiam que, apesar das benesses desse mesmo poder, não valiam nada. Mas apresentava-se o acordo.
Recuo a umas dezenas de anos no pós-25 de Abril. O PS e outros fizeram da liberalização sindical uma bandeira de luta, com irritações e manifestações, mais preocupados com a centralização dos sindicatos do que com tantas coisas que por aí se passavam, esquecendo dezenas e até centenas de anos de lutas pelo papel dos sindicatos nas reivindicações. Esquecendo até, que nos países com tradição social democrata havia sindicatos únicos e em que era socialmente reprovável não ser sindicalizado.
Ficaram o esfrangalhamento, as lutas fratricidas, a desmobilização e o discurso anti-sindical. Há quem aproveite!
Aborrece-me o discurso anti-sindical, aliás repetido por muitos que se dizem de esquerda. Diz-se: “Eles fizeram isto, eles não fizeram aquilo, eles é que têm a culpa”. Como se “eles” fossem alguma coisa fora do contexto.
E pergunta-se. Porque é que há tantos professores (como noutras profissões) que não são sindicalizados. Por que é que não participam nas reuniões, por que é que não elegem outros, por que é que não se candidatam, por que é que dão crédito a quem não representa nada, por que é que ficam em casa?
Vi e estive na manifestação dos 100000; também estive na dos 25 mil, também na dos 3000. E vi também muita gente acomodada que tem mais a perder do que eu.
E sei, até nova invenção, que sem organização e gente suficiente disposta a lutar, vence quem usa a falta de uso do poder dos outros.
E agora, se quisermos uma luta mais radical, quem acompanha?
É que não dá para mexer só de vez em quando. Porque se não houver gente suficiente com vontade de se mexer ficamos na mesma ou pior, e então diremos que "eles" assinaram tudo.
E não voltamos ao mesmo porque ficaremos pior.

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