quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ruínas fingidas. Évora

Gosto deste nome.
São fingidas só aparentemente. São colunas, capitéis, arcos, que vieram do Palácio de Vimioso, ao pé da Sé. Numa perspectiva anacrónica ainda veríamos o "fingimento" de arcos em ferradura numa arquitectura cristã. São verdadeiras mas fingidas porque foram recolocadas como em cenário. A torre é também verdadeira e está no local desde a Idade Média, em que tinha função, mas tornou-se fingida no novo velho conjunto.
E o Vimioso foi também um fingido. O conde de Vimioso foi amante da Severa, cantora da Mouraria de Lisboa, um aristocrata perdido por uma plebeia que valia mais que ele em sentimento, beleza e fado. E o Vimioso era liberal mas ficou como Marialva. E a família Vimioso era de origem bastarda e havia pais bispos pelo meio e tinha o apelido Portugal. E Almeida Garrett escreve o Frei Luís de Sousa, onde uma das personagens é Vimioso e, portanto da família Portugal e também a personificação do Portugal derrotado em Alcácer Quibir e renascido no infortúnio dos Filipes.
Romantismo, nacionalismo e tragédia tão ao gosto do século XIX, burguês mas de nostalgia aristocrata.

Era por estas ruínas falsamente fingidas, assumidas no seu fingimento que a boa sociedade de Évora se passeava.

Temos umas ruínas fingidas que fingimos não ver. Abandonamos um jardim romântico, fingindo que não existe.
Ao menos no século XIX passeava-se, ouvia-se música e usufruiam-se as ruínas fingidas.
Mais autênticas afinal que as ruínas fingidas e as fingidas ruínas que por aí andam fingido que existem.

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