sábado, 8 de março de 2008

Da Rotunda ao Terreiro do Paço. E a entropia por acréscimo.

Sigo um conselho da Senhora Ministra, embora com menor tentativa de persuasão. E também com menos sentido de oportunidade, dadas as horas.
A Senhora Ministra achou que os professores não tinham compreendido bem as suas medidas.
Vou dar uma pequena ajuda, algumas informações complementares.
A Lisboa dos séculos XIX e XX, segundo Fernando Rosas e outros (e cito de cor e mais ou menos, e no resto do texto também) estava dividida entre uma Lisboa operária, de empregados, lojistas e outros, propensos à revolução e uma Lisboa de classe média e alta, mais sossegada nesse aspecto. Uns viviam para os lados de Alcântara e Graça, mais outros bairros junto ao Tejo, onde se juntavam também marinheiros e arsenalistas, gente geralmente suspeita. Os mais respeitáveis subiam a Avenida, anteriormente Passeio Público, partindo do áulico Terreiro do Paço, significativamente mais conhecido por Praça do Comércio, obra do despotismo iluminista, que pretendia que fosse visto por todos. E que nós veremos também, embora com menos sossego.
Os carbonários, republicanos e outros resolveram invadir o espaço ainda em construção e, com alguns tiros e barricadas proclamaram a República a partir da Rotunda e com a apoteose na Câmara de Lisboa, numa praça também pombalina próxima do pombalino Terreiro do Paço, palco político por excelência.
Descendo da Rotunda, hoje Marquês de Pombal, em homenagem ainda republicana ao homem que afastou os jesuítas e promoveu reformas, segue-se a Avenida da Liberdade, não por acaso. Além de vermos o edifício modernista do Diário de Notícias, poderemos encontrar, por aí abaixo, a memória de alguns cafés de Lisboa, o cinema Condes, o Éden, outros hotéis modernistas, outros prédios comprados por empresas espanholas e de outras partes da globalização, poderemos ver o que resta dos teatros de revista, imaginar os milhões que Santana Lopes mandou pagar para modernizar o Parque Mayer e, pelo meio, poderemos observar menos atentamente porque o tempo corre, algumas flores, árvores e estátuas e bustos de poetas e até de Simon Bolívar, libertador da América. E para quem se perder noite adiante, depois do Tivoli fechar, convém que tenha algum cuidado, porque a prostituição que por aí anda já não é a das sopeiras de província despedidas porque o patrão se metia com elas.
Mais abaixo vale a pena olhar para o Palácio Foz e para os combatentes. Se alguém quiser fazer um desvio pode tomar o elevador da Glória ou ir para as portas de S. Antão. A Casa do Alentejo não é de desperdiçar, mesmo para quem menos aprecie pátios árabes.
Mas para que o caminho continue o seu rumo, admire-se a obra da estação do Rossio, o teatro de D. Maria ou de Gil Vicente e Almeida Garrett, antiga Inquisição, e até a estátua de D. Pedro IV que as más línguas dizem que foi comprada do saldo do imperador Maximiliano do México. De qualquer modo, o Rossio é das mais belas praças do país e periferia e tem boas condições acústicas. Daí vale a pena fazer uma homenagem ao Tejo, mesmo que alguns geógrafos digam que aquilo não é bem rio.
Mas as "Tágides minhas" esperam-nos e valerá a pena discutir um pouco as "orações de sapiência" e dizer a quem nos oiça e que comece a pensar em ouvir, que algo se passa neste país virado a Ocidente, que é o lado para onde o sol cai e, segundo os antigos, gregos e romanos, com algum estrondo.

Só mais um conselho, dado que orientações superiores acham que os professores e outros pouco esclarecidos devem ser aconselhados, e repetidamente. Tendo em conta a gravidade, da Física e dos respectivos graves, e a gravidade da situação, quem ainda tiver dúvidas, o melhor é seguir a inclinação, da Rotunda vai dar ao Terreiro do Paço, em plano inclinado, e não se há-de perder certamente, porque lá irá encontrar algum calor perdido nestes últimos tempos e por certo decobrirá outra lei importante da termodinâmica: a Entropia.

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